Um barco,
O desejo de me tornar mergulhadora.
Queria ver tartarugas em águas claras.
Me aventurei, nunca tive problema em fazer as coisas sem companhia.
Chegou o dia de mergulhar e realizar meus procedimentos para certificação, em alto mar.
O barco saiu.
A tripulação masculina.
Os mergulhadores já certificados, todos homens.
Duas meninas amigas, juntas.
E eu, sozinha.
Tive dificuldade de realizar um dos procedimentos, “desafogar” minha máscara.
Consegui.
No barco, percebi a estranheza que causou.
“Uma menina sozinha”.
Um dos meninos me chamou a atenção.
Quietinho, com seus olhos verdes em meio ao mar azul.
Vi mais do que tartarugas naquele dia.
Algumas peças se encaixaram e, estávamos juntos em um churrasco naquela noite.
Naquela noite nos beijamos.
No dia seguinte nos encontramos novamente, no mesmo barco.
Nove anos depois e continuamos nos beijando.
Uma casa,
Dois cachorros,
Dois filhos.
Passamos muitas dificuldades.
Pensamos em desistir milhares de vezes.
Chegamos a desistir por alguns dias.
Diante de criações diferentes,
Modos diferentes de pensar e,
Dificuldades diferentes mas que levam ao mesmo lugar, foi difícil.
É difícil.
A questão é que não existe ninguém no mundo em que eu gostaria de dividir essa dificuldade, só ele.
Aí que mora a beleza.
Aí que mora o amor.
Todos os dias aprendemos um pouco mais um sobre o outro.
Nos perdemos diversas vezes e, nos encontramos diversas vezes.
Recalculamos a rota mais vezes do que imaginávamos que iríamos.
Eu mudei.
Ele mudou.
Nós mudamos.
A experiência paterna que tive, assim como com muitas meninas/mulheres, não foi boa.
Cresci minha adolescência declamando “Terei filhos por inseminação artificial, irei criá-los sozinha. Não existe homem no mundo digno de ser pai dos meus filhos.”
Um misto de petulância adolescente com uma dor profunda.
Ele chegou.
Quem eu achei que não existia, chegou.
Não por perfeição, mas por um desejo enorme do meu coração.
Em meio aos filhos, sinto seu amor quando sem eu pedir, me entrega um copo de água.
Em meio aos filhos, demonstro meu amor quando durmo em nossa cama, em seus braços.
O que era um jantar romântico virou um lanche cheio de choros e risadas, com gritos estridentes e músicas chiclete.
Que privilégio.
Que privilégio ter ele ao meu lado diante das minhas dificuldades e defeitos.
“Como um estranho acabou sendo você?”
(Música Memorized, Blake Stadnik. This Is Us)
Que delícia olhar pra trás e ver que os planos de Deus são maiores e melhores do que quaisquer planos que eu poderia fazer.
“Mesmo quando me descuido (me desloco)
Me deslumbro (perco o foco)
Perco o chão (eu perco o ar)
Me reconheço em teu olhar
Que é um fio pra me guiar
De volta”
(Música Me espera, Sandy)
Eu era uma.
Me tornei dois.
Multiplicamos e somos quatro.
Me tornarei dois novamente, quando os filhos forem procurar se tornar dois também.
Mas nunca serei uma novamente.
Assim espero, assim é.
Amém.
